segunda-feira, 16 de maio de 2011

CARTA AOS CRISTÃOS: O CARÁTER DE CRISTO



Por Albione Souza - Professor de História. 
Cristão e Militante do PSTU.
albione@ig.com.br



Os primeiros cristãos buscavam viver de modo a imitar o caráter do seu mestre Jesus Cristo. O desapego aos bens materiais desconcertava os gananciosos e avarentos que viam em tudo e todos oportunidade de aferirem lucros ou quaisquer outras vantagens pessoais;  a velha lei de Gerson em ação.

Cristo vivia e ensinava com suas práticas concretas, era uma verdadeira pedagogia do exemplo de vida, não escrevia tratados complexos, fundamentados e justificados em teóricos, tampouco em cânones clássicos. 

O Homem de Nazaré preferia falar de coisas simples como crianças, terra, água, luz, sal, semente, vinho, azeite, plantação, colheita, grão, festas, coisas de fácil compreensão e significado para o povo simples do seu tempo.

Os sacerdotes, os fariseus e doutores da lei, em seu tempo, estavam mais preocupados em garantirem o controle social, através de “seus poderes inquestionáveis” de interpretar a palavra, a guisa de suas autoridades autoritárias em seus cargos  hierárquicos, legitimados na lei e no templo judaico, símbolos da submissão e poderio econômico a uma “elite” religiosa e política, pautada no poder dos costumes e tradições opressoras e desumanizadoras, as quais o Cristo passou sistematicamente a questionar sua valia e legitimidade, preferindo estimular, em sua maioria, o povo excluído e destituído de bens materiais, de sua dignidade humana (samaritanos, leprosos, mulheres, mendigos, etc), considerados escórias sociais, ou mesmo desprovidos do livre acesso ao “Deus”, sempre  intermediado pelos sacerdotes porta-vozes do templo, transformado no principal centro comercial, acumulador de bens materiais, às custas da manipulação e alienação dos seus fiéis.

A justiça, a partilha, a igualdade e o respeito eram imprescindíveis para  Jesus Cristo e seu séquito. Por outro lado, sua sociedade era desigual, injusta, preconceituosa, gananciosa. 

A religiosidade não era discrepante à  aceitação das corrupções, desde que cumprissem com as obrigações religiosas, postas acima de valores como o respeito e amor ao próximo; bastava apenas pagar o dizimo, seguir as leis, os costumes, as tradições, atos mecânicos e condicionados, gerando uma falsa comunhão com “Deus”.

Essa mesma inquietude produzida nos corações, mentes e espírito dos cristãos primitivos, continua ainda hoje nos levando reflexões questionadoras e inconformadas acerca dos rumos dos cristãos contemporâneos; digo todos os cristãos, católicos, protestantes e etc.



Será que não estamos facilmente nos conformando com as corrupções e o vale-tudo do nosso tempo? Ou, como autênticos cristãos, nos posicionamos como Jesus Cristo, em favor de todos os marginalizados, excluídos, discriminados, explorados, injustiçados, como ele nos demonstrou, pagando um preço de cruz decretada pelos religiosos e governantes hipócritas?

Atualmente em nossa sociedade muitas instituições religiosas, políticas e sociais rezam a cartilha dos falsos moralistas, assemelhando-se aqueles que em nome dos bons costumes e do respeito às tradições religiosas, atraiçoam o próprio Deus, dos cristãos, revelado e representado na vida de Jesus Cristo.

 Os que humilharam, massacraram o Cristo, tentando inutilmente aniquilar seu exemplo, se assemelham aos que nos nossos dias fazem das Bíblias "saraivadas de pedras", arremessadas contra os novos discriminados e excluídos da sociedade (homossexuais, sem-terras, ateus, crenças não cristãs, sem-tetos, mendigos, soros-positivos, negros, índios, pobres da periferia, prostitutas, militantes dos movimentos sociais e populares, etc)  agindo como juízes injustos, decretando sentenças em seus raconrosos tribunais cheios de autos enganos e autos suficiências, esquecendo-se do maior exemplo de JESUS CRISTO DE NAZARÉ, que POR AMOR, DEU SUA A VIDA PELOS QUE NÃO MERECIAM, COMO EU E VOCÊ.

Este foi o maior exemplo daquele que em nenhum momento nos ensinou a julgar, apedrejar, eliminar, condenar e discriminar o seu próximo, mesmo os que pensaram e agiram de maneira diferente aos seus ensinamentos.     

"Não julgueis, para que não sejais julgados. Pois, com o critério com que julgardes, sereis julgados; e, com a medida com que tiverdes medido, vos medirão também. Por que vês tu o argueiro no olho de teu irmão, porém não reparas na trave que está no teu próprio? Ou como dirás a teu irmão: Deixa-me tirar o argueiro do teu olho, quando tens a trave no teu? Hipócrita! Tira primeiro a trave do teu olho e, então, verás claramente para tirar o argueiro do olho de teu irmão." (Livro de Mateus, capítulo 7, versículos de 1 a 5 – Novo testamento)


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